“Se estou vivo até agora é porque outros serviram de cobaia. Acho que chegou a minha vez e quero fazê-lo”. Com essa disposição, Barney Clark, um dentista aposentado de 61 anos, tornou-se o primeiro homem a receber um coração artificial que, esperavam os médicos, pudesse mantê-lo vivo por pelo menos dois anos. A cirurgia foi realizada no Centro Médico da Universidade de Utah pela equipe do médico William Devries, nos EUA.
Clark sofria de uma cardiomiopatia – enfraquecimento generalizado do músculo cardíaco, com perda da força do coração, quadro conhecido pelos médicos como “insuficiência cardíaca congestiva. Ele seria operado durante o dia, mas de madrugada seu estado piorou e seu coração começou a fibrilar. Depois de levar choques para restabelecer os batimentos, Clark foi levado às pressas para o centro cirúrgico.
O coração artificial, conhecido como Jarvik-7, foi desenvolvido pelo médico Robert Jarvik, de 36 anos, que começou a trabalhar no aparelho após a morte do pai em virtude de uma doença do coração. O projeto do coração artificial custou 7 milhões e 500 mil dólares, disse o médico Wilheim Koin, do Instituto Nacional de Saúde, e um dos criadores do rim artificial. Antes de ser implantado num ser humano, o coração artificial foi experimentado em 250 animais, como cães e bezerros, que viveram por mais de um ano com o órgão mecânico. A operação custou cerca de 20 mil dólares.
Barney Clark foi definido pelos médicos, durante várias entrevistas coletivas, como “o paciente ideal para esse tipo de cirurgia”. Ele já estava velho demais para receber qualquer transplante, seu coração já não respondia aos remédios que vinha tomando e tinha uma grande vontade de viver, conforme expressou à mulher na noite anterior à cirurgia, quando começou a sentir-se pior. A operação durou sete horas e durante esse tempo o coração de Clark foi removido enquanto um coração artificial o mantinha vivo.
Segundo os médicos, Clark só poderia deixar sua casa por tempos pequenos, no máximo três horas, mas, mesmo assim, sua mobilidade seria superior à que ele tinha com o seu antigo coração, que o confinava a uma cadeira de rodas. Para poder operar, os médicos de Utah submeteram o aparelho à aprovação da Administração Federal de Drogas e Alimentos (FDA) dos EUA, que deu permissão para seu uso em seres humanos.
Apesar das expectativas dos médicos, o coração artificial Jarvik-7 não foi um sucesso. Barney Clark viveu 112 dias com o coração e acabou sucumbindo às complicações causadas pelo aparelho. Entretanto, seu projeto foi importante para criar modelos de corações artificiais aprimorados e que hoje salvam dezenas de vidas.

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